domingo, 10 de março de 2013
Convite do Tribunal Popular
O GT Indígena do Tribunal Popular: o Estado brasileiro no banco dos réus, convida para o Curso de Formação que será realizado no dia 14 de abril de 2013, das 13 as 18h, no Sacolão das Artes.
Neste encontro iremos discutir a Conjuntura da Luta dos Povos Indígenas no Brasil e a atuação das suas organizações, configuração dos Movimentos Indígenas e seus aliados.
Participe!
O Tribunal Popular também convida @s Indígenas residentes em São Paulo para expor seu artesanato e apresentar a cultura de seu povo no "Encontro com os Povos Indígenas". Maiores informações entre em contato com Avani Fulni-ô, Daniel Puri e Sassá Tupinambá
CURTA A PAGINA DO TRIBUNAL POPULAR https://www.facebook.com/pages/Tribunal-Popular-o-Estado-brasileiro-no-banco-dos-réus/183320978376396
sexta-feira, 8 de março de 2013
A MUDANÇA,OU "O PESADELO."
O reassentamento do povo Tuxá foi concluído em
1988, e até agora ,
19(atual 25) anos depois ,
a CHESF não viabilizou os 4.000 ha estabelecidos no convênio de 1987. Após quase vinte anos
do deslocamento para
a nova aldeia
na nova cidade
de Rodelas o povo
Tuxá encontra-se em condições
de produção e reprodução
social em patamares inferiores
à encontrada antes da construção
da barragem de Itaparica, sobrevivendo exclusivamente da V.M.T. – Verba
de Manutenção Temporária
- que recebem dessa empresa
estatal . O valor
da V.M.T. era inicialmente ,
como já
fora dito ,
de dois salários
mínimos e meio
e posteriormente passou a ser
de um salário
e meio . Alguns
Tuxá aplicaram o dinheiro das indenizações
dos seus roçados e benfeitorias
comprando imóveis na área urbana de Rodelas , ajudando com
o aluguel desses imóveis
o orçamento doméstico ,
mas a grande
maioria gastou o recurso
das indenizações com
bens de consumo
doméstico como
eletrodomésticos , ou
com aquisição
de motos e automóveis .
Há uma grande “ociosidade ”
entre os Tuxá, devido
a falta de terra
para desenvolverem a atividade
agrícola , e a falta
de oferta de empregos
que atinge todo
o município de Rodelas ,
que vive basicamente dos recursos pagos pela CHESF como
indenização pela inundação
de seu território .
A nova aldeia dos Tuxá, tem uma área de aproximadamente 50 hectares .
È fácil constatar
que o projeto
de reassentamento do povo Tuxá não
atendeu aos objetivos de promover
uma melhoria das condições de vida e nem atendeu as exigências
de políticas e normativas do agente financiador BIRD – Banco
Mundial de que “se o deslocamento compulsório é inevitável ,
a política do Banco
exige formulação e o financiamento de um plano de reassentamento , para assegurar as pessoas
reassentadas tenham oportunidades de desenvolvimento que
melhorem, ou pelo
menos restaurem, os níveis
de vida que
tiveram antes do projeto ”(OD.
4.30/1990). O precário andamento da implementação
do plano de reassentamento
gerou altos custos
sociais , econômicos
e culturais entre os Tuxá, como por
exemplo, a ociosidade devido a falta
de condições de trabalho ,
tendo como consequência o crescimento do alcoolismo
e o aparecimento de diversas doenças antes inexistentes , como
hipertensão e diabetes .
A CHESF não se preocupou e nem mesmo se
articulou para tentar recompor as condições
sociais e econômicas de produção
e reprodução dos índios
Tuxá de Rodelas . Nesse caso parece ter ocorrido
uma omissão tanto
da CHESF e da Eletrobrás como responsáveis e executoras das obras ,
como do BIRD – Banco
Mundial, agente financiador do projeto , que não monitorou e nem
supervisionou a implementação dos reassentamentos , para exigir que fossem
atendidas sua políticas
de reassentamento e trato
com populações
deslocadas compulsoriamente pela barragem .
A comunidade Tuxá de Rodelas que antes estava acostumada a resolver
seus problemas
pela FUNAI, não
participou das primeiras negociações e acordos
firmados entre esse
orgão governamental e a CHESF, sobre seu reassentamento . Além
disso passou anos descrendo que seu território fosse inundado, como
relata Dona Dora:
“Quando
a gente estava na velha
cidade , isso
eu me
lembro, muitos anos
atrás , a gente
ouvia falar numa barragem
de Itaparica. E para nós
não era
verdade , era
uma lenda . Isso
nunca ia acontecer .
Quando falava a gente
ficava preocupado e ao mesmo tempo a gente ‘nada , isso não vai acontecer não .’ Com o longo tempo , a história
foi expandindo, foi expandindo até o ponto de acontecer . Essa barragem trouxe muita
perda para gente .”
Nesse sentido a comunidade Tuxá se
encontrou despreparada para enfrentar
e negociar seu
deslocamento , que
foi realizado com muitas promessas por parte da CHESF, de criar condições para sua reprodução social e econômica
como relata o Cacique
Doutor :
“A questão
da CHESF é assim , quando
começou a dizer que
ia fazer a barragem
ai sempre ia iludir
a gente da Viúva .
Vinha aquele
helicóptero , parava, aí conseguia conversar com a gente , se
unia lá e ficava conversando. Aí disse:
- ‘ olha ,
vocês tem que
sair daqui porque
é o governo que
está mandando, porque essa barragem vai servir pra vocês mesmo e vocês não vão sofrer nada .’
E daí ficou levando nós
no papo , está muito
bom :
- ‘Quando
for com seis
meses vocês não
vão sentir nada , com seis meses vocês
vão chegar , trabalhar , vão deixar tudo pronto , esta bom .’
- ‘Aí ,
quando vai sair ?’
- ‘Não ,
vai sair logo .’
- ‘Agora
chegou o tempo que
vocês tem que
parar de plantar , ai vocês tem que parar agora de trabalhar .’
Paramos de trabalhar ,
aí eu
fiquei esperando, aí passou um tempo , ai
disse:
- ‘agora
é o seguinte , não
podia mais trabalhar ,
aí disse, agora
é o seguinte , quando
vocês chegarem lá
vocês não
vão sofrer nada , porque vocês vão ter a ração de suas cabras , se
vocês tem seus
gados , suas
cabras , todos
esses bichos
que vocês
tiverem nós vamos dar
ração . Está bom .’
- ‘ ah porque
não pode dar
mais a terra
ao índio , a terra é do governo ,
porque que
não pode dar
terra ao índio , só pode agora dar dinheiro .
Os civilizados lá
pra baixo
conseguiram receber terra .
Ai ficou a questão , dinheiro ,
terra , dinheiro , terra .”
Trecho retirado do trabalho de pesquisa de RICARDO DANTAS BORGES SALOMÃO
quinta-feira, 7 de março de 2013
A situação Tuxá e uma canção
Resolvi fazer esse vídeo para
retratar de forma sucinta a atual situação dos índios Tuxá de Rodelas, situação
esta, que essa canção retrata muito bem. A canção Adeus Rodelas, Itacuruba e
Tarrachil está registrada no projeto Índios Tuxá Cantam o Rio São Francisco, um
cd gravado com composições de Pedro Vieira, que só foi possível graças ao
prêmio recebido da Secretaria de Cultura do Governo da Bahia, intitulado Prêmio
de Cultura Indígena/2007, com a iniciativa “Coletânea de músicas e narrativas
sobre o Rio São Francisco na vida dos índios Tuxá.
A música no vídeo foi escrita
pelo índio Tuxá, Pedro Vieira Cruz, meu pai. A nação Tuxá foi afetada
diretamente pela construção da Hidrelétrica de Itaparica no Rio São Francisco
que no final da década de 1980 inundou o seu território tradicional, junto com
mais três cidades no estado da Bahia e quatro em Pernambuco. Nessa canção, o
meu pai expressa não somente os seus receios e suas inquietações a respeito da
“barragem maldita”, expressa também o grito de todo um povo, que configura
apenas mais um entre tantos outros a serem tratorados pelos grandes projetos de
desenvolvimento posto a cabo de forma irresponsável e unilateral. Nessas
situações os interesses dos afetados são os menos interessantes.
Os índios Tuxá tiveram o seu
território de origem inundando, sendo reassentados no município de Nova Rodelas
– BA. A CHESF, empresa responsável pela construção da barragem de Itaparica, os
informou que dentro de seis meses, novas terras, irrigadas e prontas para o
plantio a eles seriam destinadas. Após mais de 20 anos passados desde a
inundação, os índios Tuxá continuam a espera da nova terra. Hoje, os índios
Tuxá se encontram em condições de reprodução cultural e social inferiores as
que antecedem a construção da barragem. Desprovidos de seu território, sem
terra para tirar o sustento, o que nos resta? Imaginar e sonhar com o “o dia em
que a terra sair”?
As hidrelétricas são legitimadas
em nome do desenvolvimento. Mas desenvolvimento para quem, e para o que eu me
pergunto. Falar em progresso se tornou algo vazio, uma vez que esse conceito
tão caro a sociedade ocidental, desrespeita a visão dos outros sobre o que
seria, para eles, desenvolver-se e progredir. Essa é a situação dos povos
indígenas ao lidarem com as diferentes lógicas que envolvem a situação de
convivência com os não indígenas. Silenciados e invisibilizados, resta
resistir. Muito se fala em medidas mitigatórias, compensações e
indenizações. Mitigar significa abrandar,
suavizar. Povos têm as suas realidades completamente alteradas, seus
territórios inundados, e como é possível tornar isso mais suave? Como mitigar o
que não é mitigável? Compensar o que não é compensável, e indenizar o que não é
indenizável? Como negociar direitos, que não são negociáveis? Estou tentando
chamar a atenção para o que está realmente em questão aqui, um modelo de
desenvolvimento com o qual, com certeza os povos indígenas não estão de acordo.
É esse o Brasil que queremos?
“O culpado são os homens meus
amigos, que destroem a estrutura do senhor, diz que é o progresso do Brasil se
expandindo, dando a nação mais vida, mais amor. Porém a nós moradores do São
Francisco, essa barragem não nos trouxe nenhum bem, o que eu vejo é o meu povo
muito aflito, desesperado com o que vai acontecer”, canta o meu pai, para
finalizar com a seguinte frase: “se eu pudesse eu faria alguma coisa, mas eu
não posso, é o progresso do Brasil”. Esse final não poderia ser melhor para
ilustrar a sensação de impotência e o processo de resignação ao qual são
submetidos os povos indígenas e outras minorias, mediante a ação Estatal.
A situação por vezes parece de abandono, pois
tentam fazer com que nós indígenas, nos vejamos como obstáculos. Mas os povos
indígenas resistem, moldam-se, e buscam alternativas de se fazerem ouvidos,
pois a luta continua. A nação Tuxá está viva. Os Tuxá seguem lutando, e esse
texto foi escrito com o intuito de tornar visível a situação do meu povo que a
muito se sente esquecido pelas “gentonas”, os que tem poder de decisão. Mas
serve também, em tempos de Belo Monte, Copa do Mundo entre outros, como exemplo
de em que pé anda o tratamento dado as minorias afetadas por grandes
empreendimentos.
Felipe Sotto-Maior Cruz Tuxá
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