Resolvi fazer esse vídeo para
retratar de forma sucinta a atual situação dos índios Tuxá de Rodelas, situação
esta, que essa canção retrata muito bem. A canção Adeus Rodelas, Itacuruba e
Tarrachil está registrada no projeto Índios Tuxá Cantam o Rio São Francisco, um
cd gravado com composições de Pedro Vieira, que só foi possível graças ao
prêmio recebido da Secretaria de Cultura do Governo da Bahia, intitulado Prêmio
de Cultura Indígena/2007, com a iniciativa “Coletânea de músicas e narrativas
sobre o Rio São Francisco na vida dos índios Tuxá.
A música no vídeo foi escrita
pelo índio Tuxá, Pedro Vieira Cruz, meu pai. A nação Tuxá foi afetada
diretamente pela construção da Hidrelétrica de Itaparica no Rio São Francisco
que no final da década de 1980 inundou o seu território tradicional, junto com
mais três cidades no estado da Bahia e quatro em Pernambuco. Nessa canção, o
meu pai expressa não somente os seus receios e suas inquietações a respeito da
“barragem maldita”, expressa também o grito de todo um povo, que configura
apenas mais um entre tantos outros a serem tratorados pelos grandes projetos de
desenvolvimento posto a cabo de forma irresponsável e unilateral. Nessas
situações os interesses dos afetados são os menos interessantes.
Os índios Tuxá tiveram o seu
território de origem inundando, sendo reassentados no município de Nova Rodelas
– BA. A CHESF, empresa responsável pela construção da barragem de Itaparica, os
informou que dentro de seis meses, novas terras, irrigadas e prontas para o
plantio a eles seriam destinadas. Após mais de 20 anos passados desde a
inundação, os índios Tuxá continuam a espera da nova terra. Hoje, os índios
Tuxá se encontram em condições de reprodução cultural e social inferiores as
que antecedem a construção da barragem. Desprovidos de seu território, sem
terra para tirar o sustento, o que nos resta? Imaginar e sonhar com o “o dia em
que a terra sair”?
As hidrelétricas são legitimadas
em nome do desenvolvimento. Mas desenvolvimento para quem, e para o que eu me
pergunto. Falar em progresso se tornou algo vazio, uma vez que esse conceito
tão caro a sociedade ocidental, desrespeita a visão dos outros sobre o que
seria, para eles, desenvolver-se e progredir. Essa é a situação dos povos
indígenas ao lidarem com as diferentes lógicas que envolvem a situação de
convivência com os não indígenas. Silenciados e invisibilizados, resta
resistir. Muito se fala em medidas mitigatórias, compensações e
indenizações. Mitigar significa abrandar,
suavizar. Povos têm as suas realidades completamente alteradas, seus
territórios inundados, e como é possível tornar isso mais suave? Como mitigar o
que não é mitigável? Compensar o que não é compensável, e indenizar o que não é
indenizável? Como negociar direitos, que não são negociáveis? Estou tentando
chamar a atenção para o que está realmente em questão aqui, um modelo de
desenvolvimento com o qual, com certeza os povos indígenas não estão de acordo.
É esse o Brasil que queremos?
“O culpado são os homens meus
amigos, que destroem a estrutura do senhor, diz que é o progresso do Brasil se
expandindo, dando a nação mais vida, mais amor. Porém a nós moradores do São
Francisco, essa barragem não nos trouxe nenhum bem, o que eu vejo é o meu povo
muito aflito, desesperado com o que vai acontecer”, canta o meu pai, para
finalizar com a seguinte frase: “se eu pudesse eu faria alguma coisa, mas eu
não posso, é o progresso do Brasil”. Esse final não poderia ser melhor para
ilustrar a sensação de impotência e o processo de resignação ao qual são
submetidos os povos indígenas e outras minorias, mediante a ação Estatal.
A situação por vezes parece de abandono, pois
tentam fazer com que nós indígenas, nos vejamos como obstáculos. Mas os povos
indígenas resistem, moldam-se, e buscam alternativas de se fazerem ouvidos,
pois a luta continua. A nação Tuxá está viva. Os Tuxá seguem lutando, e esse
texto foi escrito com o intuito de tornar visível a situação do meu povo que a
muito se sente esquecido pelas “gentonas”, os que tem poder de decisão. Mas
serve também, em tempos de Belo Monte, Copa do Mundo entre outros, como exemplo
de em que pé anda o tratamento dado as minorias afetadas por grandes
empreendimentos.
Felipe Sotto-Maior Cruz Tuxá
Nenhum comentário:
Postar um comentário