domingo, 10 de março de 2013

Convite do Tribunal Popular



O GT Indígena do Tribunal Popular: o Estado brasileiro no banco dos réus, convida para o Curso de Formação que será realizado no dia 14 de abril de 2013, das 13 as 18h, no Sacolão das Artes.

Neste encontro iremos discutir a Conjuntura da Luta dos Povos Indígenas no Brasil e a atuação das suas organizações, configuração dos Movimentos Indígenas e seus aliados.


Participe!


O Tribunal Popular também convida @s Indígenas residentes em São Paulo para expor seu artesanato e apresentar a cultura de seu povo no "Encontro com os Povos Indígenas". Maiores informações entre em contato com Avani Fulni-ô, Daniel Puri e Sassá Tupinambá


CURTA A PAGINA DO TRIBUNAL POPULAR https://www.facebook.com/pages/Tribunal-Popular-o-Estado-brasileiro-no-banco-dos-réus/183320978376396




sexta-feira, 8 de março de 2013

A MUDANÇA,OU "O PESADELO."







O reassentamento do povo Tuxá foi concluído em 1988, e até agora, 19(atual 25) anos depois, a CHESF não viabilizou os 4.000 ha estabelecidos no convênio de 1987. Após quase vinte anos do deslocamento para a nova aldeia na nova cidade de Rodelas o povo Tuxá encontra-se em condições de produção e reprodução social em patamares inferiores à encontrada antes da construção da barragem de Itaparica, sobrevivendo exclusivamente da V.M.T. – Verba de Manutenção Temporária - que recebem dessa empresa estatal. O valor da V.M.T. era inicialmente, como fora dito, de dois salários mínimos e meio e posteriormente passou a ser de um salário e meio. Alguns Tuxá aplicaram o dinheiro das indenizações dos seus roçados e benfeitorias comprando imóveis na área urbana de Rodelas, ajudando com o aluguel desses imóveis o orçamento doméstico, mas a grande maioria gastou o recurso das indenizações com bens de consumo doméstico como eletrodomésticos, ou com aquisição de motos e automóveis. Há uma grandeociosidadeentre os Tuxá, devido a falta de terra para desenvolverem a atividade agrícola, e a falta de oferta de empregos que atinge todo o município de Rodelas, que vive basicamente dos recursos pagos pela CHESF como indenização pela inundação de seu território. A nova aldeia dos Tuxá, tem uma área de aproximadamente 50 hectares.
È fácil constatar que o projeto de reassentamento do povo Tuxá não atendeu aos objetivos de promover uma melhoria das condições de vida e nem atendeu as exigências de políticas e normativas do agente financiador BIRD – Banco Mundial de que “se o deslocamento compulsório é inevitável, a política do Banco exige formulação e o financiamento de um plano de reassentamento, para assegurar as pessoas reassentadas tenham oportunidades de desenvolvimento que melhorem, ou pelo menos restaurem, os níveis de vida que tiveram antes do projeto(OD. 4.30/1990). O precário andamento da implementação do plano de reassentamento gerou altos custos sociais, econômicos e culturais entre os Tuxá, como por exemplo, a ociosidade devido a falta de condições de trabalho, tendo como consequência o crescimento do alcoolismo e o aparecimento de diversas doenças antes inexistentes, como hipertensão e diabetes.
A CHESF não se preocupou e nem mesmo se articulou para tentar recompor as condições sociais e econômicas de produção e reprodução dos índios Tuxá de Rodelas. Nesse caso parece ter ocorrido uma omissão tanto da CHESF e da Eletrobrás como responsáveis e executoras das obras, como do BIRD – Banco Mundial, agente financiador do projeto, que não monitorou e nem supervisionou a implementação dos reassentamentos, para exigir que fossem atendidas sua políticas de reassentamento e trato com populações deslocadas compulsoriamente pela barragem.
A comunidade Tuxá de Rodelas que antes estava acostumada a resolver seus problemas pela FUNAI, não participou das primeiras negociações e acordos firmados entre esse orgão governamental e a CHESF, sobre seu reassentamento. Além disso passou anos descrendo que seu território fosse inundado, como relata Dona Dora:
Quando a gente estava na velha cidade, isso eu me lembro, muitos anos atrás, a gente ouvia falar numa barragem de Itaparica. E para nós não era verdade, era uma lenda. Isso nunca ia acontecer. Quando falava a gente ficava preocupado e ao mesmo tempo a gentenada, isso não vai acontecer não.’ Com o longo tempo, a história foi expandindo, foi expandindo até o ponto de acontecer. Essa barragem trouxe muita perda para gente.”

Nesse sentido a comunidade Tuxá se  encontrou despreparada para enfrentar e negociar seu deslocamento, que foi realizado com muitas promessas por parte da CHESF, de criar condições para sua reprodução social e econômica como relata o Cacique Doutor:
“A questão da CHESF é assim, quando começou a dizer que ia fazer a barragem ai sempre ia iludir a gente da Viúva. Vinha aquele helicóptero, parava, conseguia conversar com a gente, se unia e ficava conversando. disse:
- ‘ olha, vocês tem que sair daqui porque é o governo que está mandando, porque essa barragem vai servir pra vocês mesmo e vocês não vão sofrer nada.’
 E daí ficou levando nós no papo, está muito bom:
- ‘Quando for com seis meses vocês não vão sentir nada, com seis meses vocês vão chegar, trabalhar, vão deixar tudo pronto, esta bom.’
- ‘, quando vai sair?’
- ‘Não, vai sair logo.’
  quando nós estávamos trabalhando porque naquele tempo ficou demorando, nesse tempo o helicóptero pousava. Quando chegou um tempo ele diss:e:
- ‘Agora chegou o tempo que vocês tem que parar de plantar, ai vocês tem que parar agora de trabalhar.’
Paramos de trabalhar, eu fiquei esperando, passou um tempo, ai disse:
- ‘agora é o seguinte, não podia mais trabalhar, disse, agora é o seguinte, quando vocês chegarem vocês não vão sofrer nada, porque vocês vão ter a ração de suas cabras, se vocês tem seus gados, suas cabras, todos esses bichos que vocês tiverem nós vamos dar ração. Está bom.’
Não recebemos ração, tudo que nós trouxemos morreu, tudo, tudo que nós trouxemos foi de água a baixo e hoje esperamos. O que era pra ser mesmo, não aconteceu nada. Agora a pergunta, quando foi um belo tempo chegou:
- ‘ ah porque não pode dar mais a terra ao índio, a terra é  do governo, porque que não pode dar terra ao índio, pode agora dar dinheiro.
Os civilizados pra baixo conseguiram receber terra. Ai ficou a questão, dinheiro, terra, dinheiro, terra.”


Trecho retirado do trabalho de pesquisa de RICARDO DANTAS BORGES SALOMÃO

quinta-feira, 7 de março de 2013

Índios Rodeleiros


A situação Tuxá e uma canção


Resolvi fazer esse vídeo para retratar de forma sucinta a atual situação dos índios Tuxá de Rodelas, situação esta, que essa canção retrata muito bem. A canção Adeus Rodelas, Itacuruba e Tarrachil está registrada no projeto Índios Tuxá Cantam o Rio São Francisco, um cd gravado com composições de Pedro Vieira, que só foi possível graças ao prêmio recebido da Secretaria de Cultura do Governo da Bahia, intitulado Prêmio de Cultura Indígena/2007, com a iniciativa “Coletânea de músicas e narrativas sobre o Rio São Francisco na vida dos índios Tuxá.
A música no vídeo foi escrita pelo índio Tuxá, Pedro Vieira Cruz, meu pai. A nação Tuxá foi afetada diretamente pela construção da Hidrelétrica de Itaparica no Rio São Francisco que no final da década de 1980 inundou o seu território tradicional, junto com mais três cidades no estado da Bahia e quatro em Pernambuco. Nessa canção, o meu pai expressa não somente os seus receios e suas inquietações a respeito da “barragem maldita”, expressa também o grito de todo um povo, que configura apenas mais um entre tantos outros a serem tratorados pelos grandes projetos de desenvolvimento posto a cabo de forma irresponsável e unilateral. Nessas situações os interesses dos afetados são os menos interessantes.
Os índios Tuxá tiveram o seu território de origem inundando, sendo reassentados no município de Nova Rodelas – BA. A CHESF, empresa responsável pela construção da barragem de Itaparica, os informou que dentro de seis meses, novas terras, irrigadas e prontas para o plantio a eles seriam destinadas. Após mais de 20 anos passados desde a inundação, os índios Tuxá continuam a espera da nova terra. Hoje, os índios Tuxá se encontram em condições de reprodução cultural e social inferiores as que antecedem a construção da barragem. Desprovidos de seu território, sem terra para tirar o sustento, o que nos resta? Imaginar e sonhar com o “o dia em que a terra sair”?
As hidrelétricas são legitimadas em nome do desenvolvimento. Mas desenvolvimento para quem, e para o que eu me pergunto. Falar em progresso se tornou algo vazio, uma vez que esse conceito tão caro a sociedade ocidental, desrespeita a visão dos outros sobre o que seria, para eles, desenvolver-se e progredir. Essa é a situação dos povos indígenas ao lidarem com as diferentes lógicas que envolvem a situação de convivência com os não indígenas. Silenciados e invisibilizados, resta resistir. Muito se fala em medidas mitigatórias, compensações e indenizações.  Mitigar significa abrandar, suavizar. Povos têm as suas realidades completamente alteradas, seus territórios inundados, e como é possível tornar isso mais suave? Como mitigar o que não é mitigável? Compensar o que não é compensável, e indenizar o que não é indenizável? Como negociar direitos, que não são negociáveis? Estou tentando chamar a atenção para o que está realmente em questão aqui, um modelo de desenvolvimento com o qual, com certeza os povos indígenas não estão de acordo. É esse o Brasil que queremos?
“O culpado são os homens meus amigos, que destroem a estrutura do senhor, diz que é o progresso do Brasil se expandindo, dando a nação mais vida, mais amor. Porém a nós moradores do São Francisco, essa barragem não nos trouxe nenhum bem, o que eu vejo é o meu povo muito aflito, desesperado com o que vai acontecer”, canta o meu pai, para finalizar com a seguinte frase: “se eu pudesse eu faria alguma coisa, mas eu não posso, é o progresso do Brasil”. Esse final não poderia ser melhor para ilustrar a sensação de impotência e o processo de resignação ao qual são submetidos os povos indígenas e outras minorias, mediante a ação Estatal.
 A situação por vezes parece de abandono, pois tentam fazer com que nós indígenas, nos vejamos como obstáculos. Mas os povos indígenas resistem, moldam-se, e buscam alternativas de se fazerem ouvidos, pois a luta continua. A nação Tuxá está viva. Os Tuxá seguem lutando, e esse texto foi escrito com o intuito de tornar visível a situação do meu povo que a muito se sente esquecido pelas “gentonas”, os que tem poder de decisão. Mas serve também, em tempos de Belo Monte, Copa do Mundo entre outros, como exemplo de em que pé anda o tratamento dado as minorias afetadas por grandes empreendimentos. 
Felipe Sotto-Maior Cruz Tuxá







sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A origem do nome

Índias Tuxá na aldeia mãe




A origem do nome RODELAS
As versões. O índio rodela.
Trecho retirado do Livro de João Justiniano da Fonseca,
Rodelas - Curraleiros, índios e missionários.

Registra Nelson Barbalho, que o vocábulo Rodelas provém do formato de um escudo circular usado pelos tapuias como arma de guerra. Segundo Ariston de Souza Ferraz foi a forma material desse instrumento béçlico, semelhante a uma pequena roda – rodela- que deu o nome a um dos mais valorosos combatentes da tribo - o índio Francisco Rodela. Porém, como a tribo é substantivo coletivo, a expressão passou a ser usada no plural e, assim, o índio guerreiro ficou sendo chamado de Francisco Rodelas, cujo nome foi cantado em prosa e verso, por sua bravura no comando de uma centúria tapuia, no terço de Antônio Felipe Camarão, durante a guerra holandesa. E a região em que dominavam aqueles indígenas, finaliza, recebeu o topônimo de sertão de Rodelas. Quem habita a região de rodelas é rodeleiro.
“Acrescenta Souza Ferraz – diz ainda Barbalho- que as comunidades da nação rodeleira receberam denominações distintas, algumas ligadas à geografia regional, outras fundadas em fatores diversos.Os índios da ilha de cavalo, de Aracapá e Pirapora, o de Cariris. Na ilha de Assunção, foi situada a mais importante aldeia dos tapuias, a qual recebeu a denominação de ALDEIA RODELAS”.
Segundo Serafim Leite e Barbosa Lima Sobrinho em 1639, o índio Rodela destacava-se na luta contra o invasor flamengo, à frente de 200 combatentes de sua tribo. Em uma oportunidade matara 80 combatentes holandeses, pondo as tropas inimigas para fora da região são – franciscana de Alagoas. Saiu herói dessas lutas. Certamente ainda não recebera, no batismo, o nome de Francisco, uma vez que a referência nominal limitava-se a – índio Rodela, no singular. Não se diz por que tinha ou recebera esse nome.
Veio, em 1646, o requerimento de uma sesmaria nas recém-descobertas terras dos índios chamados Rodela. Já aí o nome estaria assim generalizado para a nação ou seria implantado agora? Aplicado à comunidade indígena, creio que é a primeira vez que aparece em documento. E o nome ficou – aldeias dos Rodela , que eram muitas, dizia o papel. 
Quanto a origem do nome RODELA, que viria de rodela – arma de guerra dos tapuias, pode ser isso, mas é sempre bom lembrar que até onde sei, em nenhum momento a crônica do índio rodela na guerra holandesa registrou este fato e nem disse dessa arma. Não alcancei a obra de Souza Ferraz nem sei a fonte que o levou a afirmativa, Barbalho não a menciona. Em história não se acolhe a conjectura, portanto havemos de ter por válida a informação.
Vale, entretanto, oferecer essa outra versão de Barbosa Lima Sobrinho: os índios Rodela eram assim chamados “porque usavam um tipo de escudo redondo  ou por causa de um disco de madeira que colocavam nos lábios como ornamento”. Falta convicção ao autor, sobre a verdadeira razão do nome – arma ou ornamento.
Há de inscrever-se, também, a tradição local, pelo menos a título de curiosidade: O nome rodela,vem do costume que tinham os indígenas dessa tribo de usarem a rótula do joelho do inimigo morto em combate, pendente do pescoço como troféu de guerra. E no caso, a tradição se robustece no fato de ainda hoje chamar-se, em Rodelas, de “rodela do joelho”, à rótula -  osso móvel da articulação. Estamos bastante longe da presença do índio Rodela na luta contra os holandeses, 1639, e do descobrimento, 1646. Mas as tradições seguem com os povos e sem perder-se, projetam-se em futuro milenar, ainda que às vezes revestidas do maravilhoso.
No caso de o nome ter origem no uso da rodela do joelho como troféu de guerra, esse troféu poderias ser usado por vários guerreiros da comunidade, os que tivessem a glória de conquistá-lo, como unicamente pelo chefe, a titulo de distintivo. “Rodela- também vale anotar a informação de Pedro Calmon – escudo pequeno, de infantaria, em castelhano e português. É palavra que está no Dom Quixote, de Cervantes”.  
A referência histórica, vamos recapitular, fixou-se no chefe- índio Rodela. Segundo se lê em Serafim Leite. E foi a partir dele, que o nome se estendeu à tribo guerreira dos Rodela, vindo a pluralizar-se ao tempo do descobrimento – “aldeias dos índios rodela, que são muitas”.


sábado, 26 de janeiro de 2013

VI SEMINARIO CULTURAL DOS JOVENS INDIGENAS DO REGIONAL LESTE

Jovens Indígenas do Regional Leste realizaram entre os dias 25 e 28 de outubro o VI Seminário Cultural, com o tema:  “JOVENS INDÍGENAS NAS LUTAS DE SEUS POVOS CONSTRUINDO O BEM VIVER”,o evento aconteceu na Aldeia Serra do Padeiro, do povo Tupinambá, no município de Buerarema, sul da Bahia.  

O grupo TATU TATU XAMARAKA esteve presente neste belo e importante encontro, abaixo segue a carta final dos jovens e fotos. 

Carta dos Jovens Indígenas

“Jovens indígenas nas lutas de seus povos construindo o Bem Viver”

Nós, jovens indígenas dos povos Atikum de Rodelas, Atikum Nova Vida, Camakan, Fulni-ô, Guarani (Espírito Santo), Kaimbé, Kapinawá, Kayapó/ Marajoeiro, Kiriri de Banzaé, Kiriri de Muquém,Pankararu, Pankararu de Pernambuco, Pankaru, Pataxó do Extremo Sul, Pataxó Hã-Hã-Hãe, Potiguara, Tapuia, Truká, TrukáTupam, Tumbalalá, Tupinambá da Serra do Padeiro, Tupinambá de Olivença, Tupiniquim (Espírito Santo), Tuxá de Banzaê, Tuxá de Rodelas, Xakriabá (Cocos, Bahia), Xakriabá (Minas Gerais) e Xukuru Kariri; representantes de comunidades quilombolas e pescadores artesanais; representantes de movimentos sociais; entidades aliadas; parceiros; professores e estudantes universitários, reunimo-nos na Aldeia Serra do Padeiro, Terra Indígena Tupinambá de Olivença, Bahia, de25 a28 de outubro de 2012, para a realização do VI Seminário Cultural dos Jovens Indígenas do Regional Leste.

Sob o tema “Jovens indígenas nas lutas de seus povos construindo o bem viver”, o seminário ocorreu em uma área retomada conhecida como Unacau. Nesta área, retomada pelos Tupinambá em maio de 2012, vivem hoje algumas famílias indígenas, engajadas na luta de seu povo e na construção de um projeto de bem viver. Note-se que este conjunto de fazendas – em que se produzia cacau e, posteriormente, café e palmito – foi constituído com o emprego de mecanismos de expropriação fundiária, como grilagens de terras e ameaças. Nos tempos da Unacau e das empresas que a sucederam, registrou-se a ocorrência de trabalho escravo e também de intensos ataques ao ambiente, notadamente o desmatamento de grandes áreas. Nós, aqui reunidos, afirmamos o compromisso de transformar este espaço de morte em um espaço de vida, e desejamos instalar aqui a primeira universidade indígena do Brasil. Enfatizamos a necessidade de o Estado avançar na elaboração do projeto de criação da universidade indígena.

Exigimos do Estado brasileiro agilidade nos processos de regularização territorial, inclusive a ampliação dos territórios pequenos. Demandamos que o Estado respeite e cumpra a Convenção 169 da OIT no que diz respeito ao reconhecimento e aos direitos dos povos indígenas, bem como à regularização de seus territórios. Preocupados com as crescentes violações aos direitos dos povos indígenas, e dos povos e comunidades tradicionais como um todo, praticadas por particulares e pelo poder público, repudiamos e exigimos a imediata revogação da Portaria 303 da Advocacia Geral da União (AGU), do Projeto de Emenda Constitucional PEC-215, da Ação Direta de Inconstitucionalidade quilombola e das diversas reformas de códigos atualmente em curso (em especial, as alterações do Código de Mineração), que visam retirar direitos conquistados pelos povos e comunidades tradicionais. Repudiamos também o projeto de transposição do Rio São Francisco, a construção da barragem de Pedra Branca e Riacho Seco, a construção de uma usina nuclear em Itacuruba, no território Truká,a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte e outros empreendimentos que impactam territórios tradicionais. Denunciamos ainda os graves abusos praticados pelo Estado nas áreas indígenas, sobretudo por ocasião de ações de reintegração de posse, e exigimos punição aos agressores. Finalmente, os povos aqui presentes solidarizam-se com a grave situação sofrida pelos Guarani Kaiowá, do Mato Grosso do Sul, e exigimos providências urgentes em relação à regularização de seu território. Estamos dispostos a lutar até a morte por nossos direitos.

Os povos aqui presentes decidiram pela ampliação da Comissão de Articulação dos Jovens Indígenas do Regional Leste (Cajirle), incorporando outros povos indígenas; com isso, ela passou a se chamar Comissão de Articulação dos Jovens Indígenas dos Regionais Leste e Nordeste (Cajirlene). Informamos ainda que apoiamos e referendamos todas as deliberações tomadas na plenária de saúde, que ocorreu paralelamente a este seminário, e apontou a grave e caótica situação em que se encontra a saúde indígena na Bahia; o documento da plenária da saúde encontra-se à disposição no relatório final.

Decidimos:
- Fortalecer a ação coletiva dos povos indígenas e comunidades tradicionais, para o enfrentamento das suas lutas, ampliando sua mobilização e articulação, realizando encontros ampliados, envolvendo também outros segmentos dos movimentos sociais;
- Estimular a participação dos jovens nas organizações de juventude já existentes e fortalecer o diálogo com as lideranças para o aprofundamento da organização da juventude em face das demandas atuais;
- Exigir a ampliação da representação indígena em todas as conferências realizadas pelo Estado, em todas as suas etapas, garantindo que os povos indígenas sejam efetivamente ouvidos ao longo de todo o processo;
- Publicar listas com os nomes dos perseguidores dos povos indígenas, com o objetivo de denunciar suas ações;
- Criar alternativas de geração de renda no interior das comunidades, com o intuito de fortalecer a autonomia dos jovens indígenas;
- Exigir a implementação de políticas públicas de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, bem como de políticas de cultura, esporte e lazer voltadas para os jovens indígenas;
- Exigir que o Estado garanta a estrutura necessária para a instituição de creches nas aldeias, respeitando a especificidade de cada povo e criando condições para que as mães continuem desenvolvendo suas atividades de estudo e trabalho, entre outras;
- Exigir a viabilização do acesso à internet nas aldeias, como estratégia de ação coletiva dos povos indígenas;
- Exigir que o Estado garanta avanços na educação superior indígena, ampliando a reserva de vagas para indígenas nas universidades, bem como o número de bolsas de permanência estudantil; garantindo transporte, hospedagem e alimentação para os indígenas participantes de processos de seleção distantes das aldeias; realizando processos seletivos, com provas diferenciadas, nas aldeias ou em pólos próximos às comunidades; criando cursos pré-vestibulares para os indígenas, com a atuação de professores indígenas e a utilização de materiais didáticos específicos; criando residências estudantis específicas para indígenas e ampliando as residências nas universidades em que elas já existam; desenvolvendo projetos de extensão e educação popular, para possibilitar o ensino e o aprendizado compartilhados dos saberes indígenas e das culturas dos povos tradicionais; incorporando a temática indígena em todos os cursos universitários; criando um sistema de reserva de vagas para indígenas na pós-graduação, bem como linhas de pesquisa específicas, bem como núcleos de estudantes universitários indígenas, aproximando as lutas dos povos indígenas e a formação acadêmica e profissional dos estudantes universitários.

Povos indígenas presentes:
Da Bahia: Atikum de Rodelas, Atikum Nova Vida, Camakan, Fulni-ô, Kaimbé, Kapinawá, Kiriri de Mirandela, Kiriri de Muquém, Pankararu, Pankaru, Pataxó do Extremo Sul, Pataxó Hã-Hã-Hãe, Potiguara, Tapuia, Truká, Truká Tupam, Tumbalalá, Tupinambá da Serra do Padeiro, Tupinambá de Olivença, Tuxá de Banzaê, Tuxá de Rodelas, Xakriabá de Cocos; Espírito Santo: Guarani e Tupiniquim; Minas Gerais: Xakriabá; Pernambuco: Pankararu; Pará: Kayapó/Marajoeiro.

Entidades presentes:
Associação Nacional de Ação Indigenista, Associação para o Resgate Social, Comissão de Articulação dos Jovens Indígenas do Regional Leste, Comissão Pastoral da Terra (Minas Gerais e Bahia), Comunidade Quilombola Brejo dos Crioulos (Minas Gerais), Congregação Divina Providência (Minas Gerais), Conselho de Cidadania Permanente, Conselho Estadual de Juventude da Bahia, Conselho Indigenista Missionário, Conselho Nacional de Juventude, Coordenação Estadual de Assentados e Acampados da Bahia, Escola Agrícola Comunitária Margarida Alves (Ilhéus, Bahia), Fundação Pau-Brasil, Grupo Tortura Nunca Mais, Jornal Voz da Juventude (Feira de Santana, Bahia), Jornal Voz das Comunidades (Feira de Santana, Bahia), Licenciatura Intercultural Indígena, Movimento de Luta pela Terra (Bahia), Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais (Minas Gerais), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, MPP, Paróquia de Senhora Santana (Buerarema, Bahia), Paróquia São Sebastião (Camacan), Programa Geografar/ Universidade Federal da Bahia, Programa de Pesquisas sobre Povos Indígenas do Nordeste Brasileiro/ Universidade Federal da Bahia, Rede Nacional de Advogados Populares (Rio Grande do Norte), Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Estado da Bahia, Secretaria de Desenvolvimento e Combate à Fome do Estado da Bahia, Secretaria de Infraestrutura do Estado da Bahia, Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Estado da Bahia, Secretaria de Relações Institucionais do Estado da Bahia, Secretaria de Políticas para as Mulheres do Estado da Bahia, Sociedade Ambientalista da Lavoura Cacaueira, Tribunal Popular do Judiciário (Maranhão), Universidade de Brasília, Universidade Estadual de Feira de Santana.

Fonte: Seminário Cultural dos jovens indígenas













Fotos de Eduarda Tuxá 

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

UM POVO, DUAS LÍNGUAS







Iglésio de Jesus, índio Tihi, da Tribo Pataxó Hã Hã Hãe, entrevistado por Dom Peixoto no Campus da Uefs, durante VI Seminário Internacional de Cultura e Linguagem, fala sobre a cultura, estilo de vida de seu povo e o processo educativo da comunidade.

A memória é importante para não deixar que sejam esquecidos os valores e atrocidades cometidas no curso da história de um povo, uma civilização e até mesmo de núcleo social de uma vila.

Aldeia Maracanã


Em outubro deste ano, o governador do Estado do Rio de Janeiro Sérgio Cabral confirmou a compra do imóvel, determinando a sua demolição para criar uma "área de mobilidade do público durante a Copa do Mundo", alegando que “o imóvel não teria valor histórico” e que “seria uma exigência da FIFA”, o que foi desmentido pela Federação, em resposta a ofício enviado pelo defensor público federal André Ordacgy.

A Defensoria Pública da União no Rio de Janeiro (DPU/RJ) ajuizou duas ACPs (Ações Civis Públicas) e, no dia 26 de outubro, obteve duas liminares favoráveis: uma impedia a demolição do prédio e a outra proibia a retirada dos índios da Aldeia Maracanã. No entanto, no dia 13 de novembro, a desembargadora Maria Helena Cisne, presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2), revogou as duas decisões.

Em 16 de novembro, a DPU/RJ entrou com recurso de embargos de declaração para esclarecer a situação e tentar reverter as cassações que favoreciam os ocupantes do antigo Museu do Índio. Em sua decisão, a presidente do TRF2 destacou que não há documentos no processo que comprovem o tombamento do imóvel. A alegação é contestada pelo defensor, que esclarece que o imóvel é tombado pelo decreto municipal nº 20.048, que proíbe a demolição de edificações construídas até o ano de 1937. O prédio é de 1910.





Para  melhores informações: http://aldeiamaracanarj.wix.com/aldeia-maracana#!noticias/c1yzj








Apoio a luta Guarani Kaiowá


Devido o rumo em que se tomou a luta dos povos indígenas, tão expressa,atualmente na situação dos índios Guarani- Kaiowás. Uma luta gritante,porém muda aos olhos do país, censurada aos olhos dos cidadãos. Passamos,em um piscar de olhos, de vitima à vilão, pois não somos interessantes aos olhos do programa de governo desenvolventista. 
Em apoio a luta dos índios Gurani-Kaiowá que vêm sofrendo uma série de ataques em nome desse "sagrado" desenvolvimento do agronegócio e afins, estudantes indígenas da Universidade Estadual de Feira de Santana junto à professores e simpatizantes da causa,vão as ruas pedir por um pouco de atenção a atual situação: Estamos morrendo! 

Eduarda Tuxá