quinta-feira, 7 de março de 2013

A situação Tuxá e uma canção


Resolvi fazer esse vídeo para retratar de forma sucinta a atual situação dos índios Tuxá de Rodelas, situação esta, que essa canção retrata muito bem. A canção Adeus Rodelas, Itacuruba e Tarrachil está registrada no projeto Índios Tuxá Cantam o Rio São Francisco, um cd gravado com composições de Pedro Vieira, que só foi possível graças ao prêmio recebido da Secretaria de Cultura do Governo da Bahia, intitulado Prêmio de Cultura Indígena/2007, com a iniciativa “Coletânea de músicas e narrativas sobre o Rio São Francisco na vida dos índios Tuxá.
A música no vídeo foi escrita pelo índio Tuxá, Pedro Vieira Cruz, meu pai. A nação Tuxá foi afetada diretamente pela construção da Hidrelétrica de Itaparica no Rio São Francisco que no final da década de 1980 inundou o seu território tradicional, junto com mais três cidades no estado da Bahia e quatro em Pernambuco. Nessa canção, o meu pai expressa não somente os seus receios e suas inquietações a respeito da “barragem maldita”, expressa também o grito de todo um povo, que configura apenas mais um entre tantos outros a serem tratorados pelos grandes projetos de desenvolvimento posto a cabo de forma irresponsável e unilateral. Nessas situações os interesses dos afetados são os menos interessantes.
Os índios Tuxá tiveram o seu território de origem inundando, sendo reassentados no município de Nova Rodelas – BA. A CHESF, empresa responsável pela construção da barragem de Itaparica, os informou que dentro de seis meses, novas terras, irrigadas e prontas para o plantio a eles seriam destinadas. Após mais de 20 anos passados desde a inundação, os índios Tuxá continuam a espera da nova terra. Hoje, os índios Tuxá se encontram em condições de reprodução cultural e social inferiores as que antecedem a construção da barragem. Desprovidos de seu território, sem terra para tirar o sustento, o que nos resta? Imaginar e sonhar com o “o dia em que a terra sair”?
As hidrelétricas são legitimadas em nome do desenvolvimento. Mas desenvolvimento para quem, e para o que eu me pergunto. Falar em progresso se tornou algo vazio, uma vez que esse conceito tão caro a sociedade ocidental, desrespeita a visão dos outros sobre o que seria, para eles, desenvolver-se e progredir. Essa é a situação dos povos indígenas ao lidarem com as diferentes lógicas que envolvem a situação de convivência com os não indígenas. Silenciados e invisibilizados, resta resistir. Muito se fala em medidas mitigatórias, compensações e indenizações.  Mitigar significa abrandar, suavizar. Povos têm as suas realidades completamente alteradas, seus territórios inundados, e como é possível tornar isso mais suave? Como mitigar o que não é mitigável? Compensar o que não é compensável, e indenizar o que não é indenizável? Como negociar direitos, que não são negociáveis? Estou tentando chamar a atenção para o que está realmente em questão aqui, um modelo de desenvolvimento com o qual, com certeza os povos indígenas não estão de acordo. É esse o Brasil que queremos?
“O culpado são os homens meus amigos, que destroem a estrutura do senhor, diz que é o progresso do Brasil se expandindo, dando a nação mais vida, mais amor. Porém a nós moradores do São Francisco, essa barragem não nos trouxe nenhum bem, o que eu vejo é o meu povo muito aflito, desesperado com o que vai acontecer”, canta o meu pai, para finalizar com a seguinte frase: “se eu pudesse eu faria alguma coisa, mas eu não posso, é o progresso do Brasil”. Esse final não poderia ser melhor para ilustrar a sensação de impotência e o processo de resignação ao qual são submetidos os povos indígenas e outras minorias, mediante a ação Estatal.
 A situação por vezes parece de abandono, pois tentam fazer com que nós indígenas, nos vejamos como obstáculos. Mas os povos indígenas resistem, moldam-se, e buscam alternativas de se fazerem ouvidos, pois a luta continua. A nação Tuxá está viva. Os Tuxá seguem lutando, e esse texto foi escrito com o intuito de tornar visível a situação do meu povo que a muito se sente esquecido pelas “gentonas”, os que tem poder de decisão. Mas serve também, em tempos de Belo Monte, Copa do Mundo entre outros, como exemplo de em que pé anda o tratamento dado as minorias afetadas por grandes empreendimentos. 
Felipe Sotto-Maior Cruz Tuxá







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