domingo, 6 de janeiro de 2013



Eduarda Tuxá


Do lado de cá

Do lado de cá as coisas costumam ser bem diferentes, aparentemente o que nos separa do outro lado é apenas uma cerca marrom de madeira. Porém,vai além disso, vai além das cercas que nos separam ou das diferenças culturais que nos tornamcontrários, o ponto mesmo que nos separa é quase invisível e imperceptível.
Como índia desse lugar onde o dia,a tarde e a noite tem tons tão calmos e alegres,onde o vento é sempre brisa levando boas novas, cubro-me de alegria estonteante, comemoro diariamente ser quem sou, estar onde estou. Sinto que sou diferente dos demais e sei do quão isso é importante, está na minha expressão forte, nos meus cabelos escuros, nos meus olhos puxados, na pele e na cara larga, e mais ainda, está por dentro, correndo quente e pulsante por entre minhas veias, está na alma, na mente, no meu querer e no meu ver.
Aqui no meu circulo de vivência, minha aldeia, muitas coisas mudaram, o desenvolvimento arrastou de nós algumas coisas, mas também nos trouxe o reconhecimento dos nossos direitos e nos livrou de uma vida de fome e analfabetismo. Matamos a ideia de que Índio e Burro são palavras sinônimas.
Com a idade que tenho,17 anos,quase 18 (07/12 aniversário. Espero presentes)perdi a oportunidade de viver uma variedade de coisas, desde tradições antigas à simples brincadeiras que ouço meus pais e avós contarem com os olhos cheios d’água. Porém, mesmo com o passar dos anos e com a deslocação do povo Tuxá por conta da Barragem de Itaparica, neste meu tempo, da nova geração que tem acesso a Internet, que tem Twitter e Facebook, é possivel sentir, e ainda gritante e relutante, a nossa cultura viva. ( Um grande orgulho,não?)
É Verdade, nunca andei nua, nem sei fazer tapioca , remar , pescar. Honestamente? Nem nadar eu sei...!Mas, tem algo de marcante em mim,assim como nos meus pais, irmãos, e em todos e todas que formam e fazem o Povo Tuxá.
Agente se aceita como é, talvez seja essa a diferença do Índio e do Homem branco, agente se aceita e brinca , não ficamos presos a aparências, é beleza e lucro ser o que se é, existir nesse mundão de meu Deus! É motivo de festa , dança e risos!
Enfim, enfim e enfim . . . a água levou as nossas casas,asterras,asplantações,mas... Somos nós a chama que se manteu acessa depois de uma enxurrada de água fria!


Eduarda Tuxá
26 de outubro de 2011

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