sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Nação Guerreira



Peça: Nação Guerreira
-CENA 1-

*4 velhos estão sentados ao lado da fogueira,crianças passam correndo.
Uma criança para e fica a observar.
-  Vô será que pode nos contar uma história?
O vô fica em silêncio,pensativo. Dar umas baforadas no seu cachimbo e começa a falar.
- Esta é a história de um povo guerreiro que vive às margens do grande Opará. Conta-se os mais velhos e sábios da aldeia que este povo de sangue valente e Justo surgiu há muito tempo atrás,no tempo em que Índio era caçado que nem bicho,mas o que se lembra mesmo,é da história que esse povo começou a escrever desde os dias e noites passados na terra,onde hoje é a Praia de Zorobabel,ou Surubabel.
Corre por toda a região o nome desse povo que traz na bagagem uma longa estrada de vitórias,guerras,conquistas e sofrimentos.
- O que aconteceu a esse povo?
*Velha.
- Este povo muito sofreu,muito perdeu,mas muito ganhou,muito lutou,muito permaneceu e até hoje se mantém vivo.
Ouvi dizer até que eles muito apanharam, levaram na cara o nome de ignorante, tentavam fazer com que eles se envergonhassem de ser o que eram,mas,ouvi dizer que nenhum dessa nação ousou se curvar aos homens brancos e maus, nenhum guerreiro que carregasse o nome,o sangue nas veias desse povo ousou jamais deixar a sua cultura e sua tradição.
- Então,eles ainda existem? (Alice)
Ao longo do passar dos anos,a catequese forçada usada para evangelizar os índios foi fazendo com que esses índios fosses esquecendo o seu dialeto,não porque quisessem,mas porque foram obrigados. Mas mesmo esta perda não é completa,o dialeto deste povo,o Dzubukuá,se tornou uma língua sagrada e honrada nas noites de ritual ou quando a fé forte a permite.
- Este povo era grande? (carol)
- Quanta família formava esse povo?
*Querida,este povo era grandioso...! Havia várias famílias que deram origem e nome a sua descendência,cada guerreiro valente,fazia prevalescer o seu nome para as suas crias, haviam os Arfer, Apako, Jurum , Flechiá, Aribá , Arquia , Quaqui, Caraté e outros tantos.
*Este povo viveu algumas desavenças entre si, por diversidades e opiniões contrárias. Mas era um povo unido. Dentre todo o mundo e de todas as nações, jamais se fez um povo tão unido e valente!
E o que aconteceu a eles? (Alice)
*Estes caboclos da Jurema foram criando o seu espaço,sofriam a fome,mas apreciavam o sabor da felicidade.
* Viviam entre a terra de rodelas e Ilha da viúva,ilha mãe de todos e todas. Viviam a remar os seus barcos de lá pra cá,remavam,se encantavam e empunhavam o seu facão pra qualquer negro d’água que quisesse brincar,estes índios entravam na dança. Índios de mistérios estes...
* Foram explorados por alguns fazendeiros...  trabalhavam horas por qualquer coisa,quando a fome batia corriam pro pé da quixaba e se estubigavam. Riam,brincavam,amavam tudo o que tinha.
* Na ilha da viúva tinha de tudo. Era manga,goiaba,feijão. O que era de um era de todos,e assim seguia. Faziam a sua própria farinha na casa em que a FUNAI lhes deu,tiravam a casca da mandioca,ralavam,empressavam e faziam seu próprio alimento.
*No mato,Viam e se encantavam a cada dia com os mistérios que a natureza  lhes descobria aos olhos.
* E havia o Opará...! ah... o Opará! Aquele brilho,aquele luz....! logo no pé das nossas casas... mal se acordava e lá estávamos nós.. nos banhávamos, brincávamos...  Eramos os donos daquilo tudo, peixe e piaba daquele mar de água doce...!
- Nossa como era Legal! (Carol)
*Era,era muito bom! Mas um dia uma notícia pôs fim a tamanha alegria,e toda essa caboclada se viu avexada por demais,com medo de perder o seu chão.
* Surgiu um boato de que viria muita,mais muita água botar todo essa felicidade à baixo. Este diluvio se chamava A HIDRELETRICA DE ITAPARICA,que iria inundar cidades da região,inclusive as terras deste povo guerreiro.
* Tava tudo certo,havia data e hora para eles saírem.
*E quem disse que podia reclamar??? Podia não!  A ordem vinha lá de cima,mas do que eles poderiam entender e mudar.
* Então,os índios se puseram a chorar e a lamentar sua impotência. Havia deles que juravam não deixar por nada aquele torrão,mesmo com a água pelos cangote,não arredaria o pé de lá não.
- E então,vó,o que aconteceu?
* Aconteceu que chegou o dia! Chegou o dia da dor...
* Eles viram os seus irmãos tomar outro rumo,iam na carroça de burro,carregando os pertences             que tinham. Iam ligeiros e tristes,não queria ver o seu lar debaixo d’água;
* E assim foi se dividindo a nação guerreira,uns pra cá outros pra lá. Uns em Ibotirama,Inajá,e os outros, à espera da nova Rodelas.Terra que lhes pertenciam por direito.
* Vó que história triste,nossa vó esse povo passou por tantas batalhas e ainda teve que deixar para trás todas suas conquistas?!
*pois é... é uma pena! Mas é assim...
*E os índios ficaram desesperados aos ver a água cobrir o telhado das suas casas,e a dor de ter que deixar a sua terra mãe,a ilha da viúva para tráz,era indescritível.
*Mal sabiam o que lhe esperavam...
* Então este povo foi levado pra terra que seria o seu novo lar. Passaram  a viver lado a lado com o homem branco. Tornando este laço uma ameaça pra cultura deste povo.
* E aí,vô? Esta história termina assim? Eles perderam o seu lar e foram morar que nem branco,é isso?
*Não minha filha não termina assim... muita coisa mudou...
* AH!ESPERA! Vocês esqueceram de contar uma coisa! A mais importante! Que povo é esse que vocês falaram? Qual o nome deste povo guerreiro? É a nossa história,não é vô?
* Minha neta, não direi hoje de que povo estou falando. Pois sei que daqui há alguns anos você vai entender tudo o que foi dito aqui, e entenderá tin tin tin por tin tin tin cada parte desta história e da sua história. Um dia você vai descobrir de onde veio e a que pertence.

Termina o 1º ato.
- Anos depois -
-CENA 2 –
*Narração
Aquela pequena Índia cheia de dúvidas cresceu.
Cresceu e se tornou mulher,índia e uma Estudante da Faculdade de Medicina.
Ela deixou o seu lar pra morar longe dos seus pais, ela sonhava em ser mais do que era, queria estudar Medicina pra assim ajudar aos seus parentes.
Assim ela foi morar em um lugar distante,com pessoas que ainda não conhecia e com uma cultura bem diferente.
Sentia medo,muito medo,mas decidiu enfrentar as coisas todas de frente.
Não entendia, mas sentia que tinha uma força que fazia com que ela seguisse em frente.
E no primeiro dia de aula,lembrou da história que seu avô havia contado há anos atrás, pensou na força e coragem que tinham,por um instante, se sentiu assim também. Não entendeu.

Em uma sala de aula de uma Faculdade de Medicina
Entra uma jovem Índia

A nossa Jovem Índia entra na sala de aula cheia de Jovens como ela, mas todos de um jeito bem diferente.Entra e senta calada,todos olham pra ela. Um jovem começa a rir e a falar pra toda turma.

Um jovem*Galera,ouvi dizer que na nossa turma tem uma Índia das brabas rsrsrs estão preparados para isso?
Uma Jovem* É serio? Será que ela já chegou?
Um Jovem* acho que não,não tô vendo niguem nu aqui!
TODOS RIEM
A nossa Índia permanece calada e de cabeça baixa.
Um jovem* Esses índios são muito burros mesmos,pra que sair da aldeia deles? Da oca deles? Eles não gostam não é de mato farinha e peixe?
TODOS RIEM
Uma Jovem * Sabe o que é,Carlos? É que nem eles mais querem ser índios,eles querem ser brancos agora. Meu pai diz que eles Vivem aí fazendo bagunça, um dia desses invadiram a fazenda do meu Pai, dizendo que a terra era deles, meu pai danou-se a rir, chamou a Policia e colocou tudo pra correr...
Outra Jovem * Eles acham que só porque foram os primeiros habitantes do Brasil são donos de toda terra. rsrs
Um jovem * São idiotas mesmo...! Dizem que todo índio é burro,selvagem e ignorante, eu quero saber só o que essa índia quer fazer aqui!?
Todos começam a rir.
A nossa Índia começa a levantar.
Todos continuam a rir.
*Escuta aqui,eu vou contar uma história pra vocês!
Eu me chamo Tariana,sou Índia do Povo Tuxá.Há muito tempo atrás o meu avô,um homem sábio me contou uma história,naquela época,criança que eu era não pude entender,mas hoje,enquanto ouvia as bobagens que vocês falaram,eu entendi que a história que ele havia me contado era a história do meu povo Tuxá,história de Índios guerreiros que encararam com grande coragem as coisas que o homem branco e a modernidade faziam a eles. Sabe, eu percebi que eu carrego o sangue de cada um deles, e que cada um dos meus ancestrais me guiam aonde quer que eu vá,me dando a coragem de enfrentar todos os obstáculos,me fazendo Índia guerreira que não se cala,que grita,grita,grita e defende o que é seu!
E sabem do que mais? Eu percebi que nada tira de mim o que eu sou, não é você,você ou você que vai me fazer me envergonhar do que eu sou e de onde eu venho, ta aqui, ta vendo? Na minha veia? É,ta aqui,o sangue correndo! O Mesmo sangue que foi derramado em guerras,o sangue que meus tataravós derramaram lutando por mim e por meus irmãos.
Não importa se eu estou na minha aldeia,aqui ou lá na China,eu sempre serei Índia Tuxá de Nação Proká. Eu sempre serei a menina  que vivia a correr na aldeia,que dançava toré com vontade,que andava atrás do meu avô na ânsia de ouvir uma boa história.
E antes que eu me esqueça...!
Ser índio não é ser ignorante, se eu estou aqui hoje,nesta faculdade,é porque eu sei tanto quanto vocês,e diferente de vocês,ricos por natureza,eu tive que ralar muito pra chegar até aqui... ouviu?
Agora eu pergunto a vocês..! Quem é mais ignorante?
Eu que aceito com orgulho aquilo que sou,que luto por aquilo que acredito ou vocês que julgam os outros sem mesmo conhecer a sua história?

TODOS SE CALAM

*Ok, está certo. Eu respondo. Os ignorantes aqui são vocês!
E daquele dia em diante Tariana passou a ser respeitada por seus novos colegas de Faculdade.
Aprendeu muita coisa dali pra frente, inclusive a não se deixar debater por nenhum obstáculo que se apresente no seu caminho.
Aprendeu a ouvir a voz dos seus ancestrais no vento, indicando a ela o melhor caminho a trilhar.
Aprendeu a manter sua humildade e simplicidade.
Ensinou a seus novos amigos a não julgar ao próximo, fazendo eles admirarem e respeitarem cada vez mais a sua história e cultura, mostrando que as diferenças existem apenar por um único motivo: Fazer crescer nas pessoas o sentimento de respeito,igualdade e União.
Escrita por Eduarda Arfer Juntá Tuxá;

*Peça escrita em homenagem a minha madrinha Tariana Arfer Jurum Tuxá, índia de muita coragem, que nunca deixou de levar o nome do seu povo como muito orgulho!

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