sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Infanticídio indígena



Decidi hoje, especialmente neste final de tarde, fazer uma postagem aqui no blog falando sobre o Infanticídio indígena, uma questão muito delicada e constantemente debatida, questão essa que é, infelizmente, um dos argumentos mais usados por aqueles que não conhecem a cultura indígena e que assim a desrespeita e julga.
Um dos motivos que me fez debruçar sobre as teclas deste notebook foi pelos constantes debates que ocorrem na minha sala de aula e que muitas vezes acabam chegando sempre neste ponto: É questão cultural? É questão de cadeia? Por quê? Como?
Até então, quanto este assunto, nada ouvi que, de fato, fosse reflexo de preconceito ou que me atingisse de alguma forma (Obrigada Turma!), porém queria deixar aqui no Blog alguns depoimentos,vídeos e textos falando sobre tal, para melhor entendimento de todos que este espaço costumam visitar.
Antes disso, queria deixar minha humilde opinião, não acredito que seja exatamente uma questão cultural, a questão é de sobrevivência, como é que uma comunidade que não tem o mínimo de acesso a postos de saúde cuidará de uma criança com deficiência?O que acontece com essa criança deficiente e sem atendimento médico? A pergunta é retórica. Portanto, antes de qualquer julgamento, é preciso de atendimento médico e psicológico nestas comunidades, ensinar que estas crianças podem sim, viver apesar das dificuldades, e que toda criança tem Direito a vida.

 “As crianças indígenas fazem parte dos grupos mais marginalizados do mundo, por isso é urgente agir a nível mundial para proteger sua sobrevivência e direitos".
(Relatório do centro de Investigação da UNICEF, em Florença, fevereiro de 2004)

“Estamos juntando forças para pensar e agir sobre um assunto por demais importante. Trata-se do infanticídio praticado em etnias indígenas brasileiras sem que seja dado à família ou povo condições de diálogo sobre o assunto, na busca por outras soluções para as questões culturais que motivam tais fatos.”
(Ronaldo Lidorio, Carta aberta sobre o infanticídio indígena no Brasil)

O que é Infanticídio?
Popularmente usado para se referir ao assassinato de crianças indesejadas, o termo infanticídio nos remete a um problema tão antigo quanto a humanidade, registrado em todo o mundo através da história.
Crianças indígenas são enterradas vivas, sufocadas com folhas, envenenadas ou abandonadas para morrer na floresta. Mães dedicadas são muitas vezes forçadas pela tradição cultural a desistir de suas crianças. Algumas preferem o suicídio a isso (Muitas vezes Pai e Mãe preferem o suicídio a ver a morte do seu filho/a) .
Muitas são as razões que levam essas crianças à morte. Portadores de deficiência física ou mental são mortas, bem como gêmeos, crianças nascidas de relações extra-conjugais, ou consideradas portadoras de má-sorte para a comunidade. Em algumas comunidades, a mãe pode matar um recém-nascido, caso ainda esteja amamentando outro, ou se o sexo do bebê não for o esperado. Para os mehinaco (Xingu) o nascimento de gêmeos ou crianças anômalas indica promiscuidade da mulher durante a gestação. Ela é punida e os filhos, enterrados vivos.

Em certas comunidades, aumentam os casos entre mães mais jovens. Falta de informação, falta de acesso às políticas públicas de educação e de saúde, associadas à absoluta falta de esperança no futuro, perpetuam essa prática.

 
ONG ATINI  (Voz pela Vida) tem se proposto a discutir o infanticídio com o indígena e colaborar para a superação deste tabu social. Os elementos culturais que motivam o ato são dos mais variados em distintas etnias. Entre os Yanomami seria a promoção do equilíbrio entre os sexos. Entre os Suruwahá a deficiência física. Entre os Kaiabi o nascimento de gêmeos (sendo que a primeira criança é preservada), e assim por diante. Este não é um assunto exclusivo de nosso país. Na África centenas de etnias praticam o infanticídio. Muitos Konkombas de Gana, motivados pela subsistência, alimentam apenas as crianças mais fortes. Os Bassaris do Togo sacrificam as crianças que nascem com deficiência. Os Chakalis da Costa do Marfim o fazem por privilegiar o sexo masculino. Na China há amplo aborto de bebês do sexo feminino, por preferirem os meninos. Em dezenas de países o Estado e a sociedade têm se voluntariado para refletir sobre o infanticídio e tratá-lo à luz dos Direitos Humanos Universais. No Brasil ainda temos uma caminhada pela frente.


Quebrando o Silêncio

Tem assuntos que ninguém gosta de falar. Quando uma mulher indígena do grupo arawá sai para dar à luz, por exemplo, ninguém vai junto. Esse é um momento só dela. Ela sai sozinha, mesmo que seja muito jovem e aquele seja seu primeiro bebê. Ela procura uma árvore ou arbusto onde possa se apoiar, se agacha, e ali enfrenta suas dores. É ali, na hora do parto, que essa jovem mãe tem a grande responsabilidade de decidir o futuro da criança. Ela só poderá ficar com o bebê se ele for perfeito.
Se por alguma razão ela volta para a casa sem o bebê nos braços, o silêncio é geral. Ninguém pergunta o que houve. Nem o pai da criança, nem os avós, nem a amiga mais próxima. A jovem se afunda em sua rede, muitas vezes sem coragem ou forças nem para chorar. O assunto morre ali mesmo. Ninguém pergunta por que ela voltou sem o bebê. A mãe terá que carregar sozinha, em silêncio, pelo resto da vida, a lembrança dessa maldição, dessa má sorte, dessa infelicidade.
Às vezes ouve-se ao longe o choro abafado da criança, abandonada para morrer na mata. O choro só cessa quando a criança desfalece, ou quando é devorada por algum animal. Ou quando algum parente, irritado com a insistência daquele choro, resolve silenciá-lo com uma flecha ou um porrete.
Depois disso o silêncio é absoluto.
O infanticídio é um tabu. Da mesma maneira que o assunto é evitado nas sociedades indígenas, é evitado também na nossa sociedade. Ninguém fala, ninguém enfrenta, ninguém toma posição.
A posição mais cômoda continua sendo a da omissão - omissão muitas vezes maquiada de respeito às diferenças culturais.
Estamos vivendo um momento de mudança de atitudes. Algumas mulheres indígenas resolveram abrir a boca sobre esse assunto, tão polêmico e ao mesmo tempo tão doloroso para elas. A partir da iniciativa dessas mulheres, o tabu começou a ser quebrado e a mídia nacional vem veiculando diversas matérias sobre o assunto (Revistas Consulex – outubro 2005, Problemas Brasileiros, do SESC/SP de maio-junho 2007; Cláudia, julho de 2007; Veja, agosto 2007, dentre outras).
Nossa sociedade precisa parar de falar por um momento e ouvir essas vozes.
Os números são alarmantes.

Quebrando o Silêncio aborda o infanticídio a partir do depoimento dos próprios indígenas. Reúne relatos de parentes de vítimas, de agressores e de sobreviventes.
São ouvidos, ainda, antropólogos, advogados, religiosos, indigenistas e educadores.


[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=kj__DDgke04]
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=wFcPk_3qGXo]

"Não se pode preservar uma cultura que vai contra a vida".
Edson Suzuki, diretor da ONG Atini


Post por Eduarda Arfer Juntá Tuxá,23/05/12

Nenhum comentário:

Postar um comentário