sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Um índio diferente



Há algum tempo, nós indígenas, passamos a ser mais presentes pelos centros urbanos, nas universidades, dentro dos espaços políticos e judiciários, propondo a sociedade uma nova cara para o que somos, tentando através dos estudos, militância indígena, e de outras maneiras, conquistar o espaço que outrora nos foi tomado, e fazer valer os direitos que possuímos, além disso, e com tudo isso, poder manifestar nossas vontades e interesses,expor a nossa capacidade quanto ser humano que pensa,age, e que, talvez mais que qualquer um, traz consigo a herança de uma nação que muito contribuiu e contribui na construção das riquezas e belezas que compõem o nosso país.
Esse contexto, índio/aldeia e índio/cidade, índio/universidade, índio/mundo, acontece marcada por um conjunto de preconceitos, a sociedade não indígena, presa ainda por um conjunto de estereótipos, que cruelmente foi criada ao longo dos muitos anos de Brasil, carregam consigo a ideia de índio burro, selvagem, preguiçoso ou até mesmo, o que me parece pior, a ideia do bom índio, tantas vezes apresentado na literatura do Brasil, onde o índio é aquele ser tolo aparentemente desprovido de inteligência e por isso fáceis de enganar, ou a ideia da fantasia sexual, que tem como símbolo as belas índias de pele avermelhada, cabelos longos e despida. Índio que veste roupa,  que é inteligente, que já traz consigo a marca da violência, ou da miscigenação, que tem cabelo encaracolado, pele morena, olhos azuis, que não tem “aparência” de índio, não tem o cabelo liso cortado com cuia, enfim, não é o índio que está no imaginário da população, é esse a maior vítima do preconceito burro daqueles que não tem o conhecimento da nossa história.
 Isso me lembra daquele velho papo, “nos vestiram e agora querem nos despir”, é mais ou menos isso o que acontece, mas volto a dizer como rotineiramente digo, o que nos faz índio não é aparência, afinal, trazemos uma história marcada por violências, quando nossas ancestrais,mulheres índias eram obrigadas a deitar-se com homens brancos, ou quando apanhavam para ter que deixar de falar a sua língua mãe, porque eles determinados a nos fazer engolir a sua religião, nos diziam que essa era a língua do demônio ou coisas desse tipo, que honestamente, me levam sempre a me perguntar quem são os “ignorantes” da história; pois bem, ser índio é ser parte de uma cultura, parte de uma história, como diz o meu primo Jeykson Araújo, estudante de Educação física da UEFS, cotista, indígena e tatuador,quando me disse não concordar com o termo “índio”, e que na verdade somos aborígenes, “ somos filhos da terra”. Acredito que seja isso o que nos torna índios, é o que cultivamos dentro de nós, o que preservamos como valores essenciais, são esses valores, diferente dos demais, a cultura da dança, a fé na vida em comunidade, comungando com a terra, a água, a mata, e a forte crença nos nossos ancestrais e na força da natureza que nos torna o que somos, “ser índio é um estado de espírito”.

Por Eduarda Tuxá.

Foto retirada de :http://www.fundacaobunge.org.br/jornal-cidadania/materia.php?id=9801&/o_direito_de_ser_indio

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